terça-feira, 9 de abril de 2013

O bilingüismo em pauta

 
Por Clíncia Plenamente
www.plenamente.com.br

Não há dúvida de que quanto antes uma pessoa aprende uma segunda língua, maior facilidade terá em desenvolvê-la. A aquisição bilíngüe da linguagem refere-se ao resultado de uma exposição muito precoce, simultânea, regular e contínua a mais de uma língua (Houwer, 1997). Entretanto, se a criança em grande parte de seu tempo usar apenas um idioma, dificilmente a escola, mesmo que com proposta bilíngüe, garantirá tal desenvolvimento .

De qualquer forma, paralelamente ao desejo crescente de colocar o filho em contato com outra língua de forma natural, gradativa e lúdica o mais cedo possível, vem a angústia das dúvidas: as crianças que aprendem duas línguas podem ter dificuldades em seu desenvolvimento de linguagem? É normal a criança misturar as duas línguas que conhece? O bilingüismo pode lentificar o desenvolvimento da linguagem oral?

A idéia do bilingüismo causar distúrbios de linguagem é uma visão superada e sabe-se, inclusive, que a exposição da criança a duas línguas a incentiva a se concentrar nas propriedades formais de cada uma delas (Pleh e col., 1987), desenvolvendo o que chamamos de consciência metalingüística, ou seja, uma habilidade para refletir sobre a própria linguagem.

Existem diferentes manifestações que podem ser consideradas atividades metalingüísticas, como por exemplo: apreciar rimas, realizar correções gramaticais, contar palavras em uma sentença, julgar se palavras começam ou não com o mesmo som, entre outras. Verifica-se, então, que a consciência metalingüística é um conjunto de habilidades bastante amplo, mas o que há em comum nas atividades citadas é que todas pressupõem manipulação, ação e reflexão sobre a linguagem.

Dependendo do aspecto envolvido da linguagem, podemos classificar as habilidades metalingüísticas da seguinte forma:
 tarefas que exigem atenção e reflexão sobre os sons da fala são atividades de consciência fonológica;
 tarefas de reflexão sobre os aspectos gramaticais da linguagem são atividades de consciência sintática;
 tarefas envolvendo relações entre sentenças e os contextos em que estão inseridas, são denominadas de consciência pragmática.

Embora se saiba que crianças bilíngües possam ter maior nível de consciência metalingüística, seria importante aprofundar em qual tipo de atividade essas crianças apresentariam maior desenvolvimento.


Apesar deste enriquecimento da linguagem, é comum observarmos em crianças bilíngües a “mistura” das línguas faladas, ou seja, a criança pode produzir, por exemplo, uma frase alternando elementos do português e inglês, o que a princípio não indicaria alguma anormalidade. Não somente em um enunciado a criança pode alternar códigos, mas também em um trecho mais longo do discurso (Houwer, 1997), demonstrando a capacidade de utilizar determinada língua dependendo de seu interlocutor.

Em relação ao desenvolvimento bilíngüe, sabemos que a criança segue o mesmo curso de uma criança monolingüe, ou seja, passa por um estágio de balbucio (emissão de sons e sílabas), inicia as primeiras palavras de forma isolada por volta de 1 ano, para depois de um período juntá-las elaborando frases, inicialmente mais simples e depois mais complexas.

Desta maneira não se espera maiores atrasos de fala em crianças bilíngües, mas não devemos esquecer que assim como existem variações cronológicas de desenvolvimento individuais entre as crianças que falam apenas uma língua, o mesmo pode ocorrer entre as bilíngües. Em algumas situações em que pais e professores suspeitem de atraso de linguagem em função do bilingüismo, recomenda-se consultar um fonoaudiólogo que poderá auxiliar a família em como proceder com a criança, avaliando se é necessário a exclusão de uma língua.

Embora saibamos de todos os benefícios em dominar mais de um idioma e que a habilidade para esse aprendizado é maior entre o nascimento e os 10 anos, vale avaliar se esse aprendizado está adequado às possibilidades cognitivas e emocionais da criança e seu interesse, evitando oferecer uma estimulação além do ritmo de desenvolvimento de cada um.

Este texto foi elaborado pela fga. Silvia Pellegrini Ruschel – equipe Plenamente. (www.plenamente.com.br)